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a vida de movimento

Sistema Metro do Porto

Arquitectura

O Metro Ligeiro de Superfície desliza suavemente à superfície, sem fazer muito ruído, sob dois carris de aço.
A implantação dos carris é imposta por um sistema fechado de cotas, obedecendo a regras rígidas, sem contemplações subjectivas.

Os carris de aço, devem ficar embutidos no pavimento das ruas (em caso de emergência, os bombeiros têm que passar). Os materiais podem variar desde cubos de granito, tapete betuminoso ou tapete de relva.

Por motivos acústicos, os carris assentam sobre uma laje flutuante que recebe peças em aço, almofadadas com borrachas.

A implantação deste sistema obriga à demolição das ruas e, como consequência, de todas as infra-estruturas.

Novas redes de saneamento, águas pluviais, gás, electricidade, telefone, tv cabo, fibra óptica e por vezes oleodutos, têm que coexistir com o próprio sistema do Metro a construir – multitubulares com caixas de 20 em 20 metros.

Mas o problema do Metro à superfície, não é só a superfície, há que pensar no céu, nas catenárias e na iluminação. Estas podem ser suspensas a partir de um “poste” central ou então com dois postes laterais.

Quando a largura da rua não permite o sistema, as catenárias ficam suspensas por cabos de fachada a fachada.

O problema é que geralmente as fachadas são em vidro “NUAGE”, ou com tijolo de 7 cm na parede exterior.

Trabalhamos do eixo para os lados (o canal do Metro é sempre inflexível) e o que sobra é distribuído para outros veículos, estacionamento quando cabe, e passeios até chegar às soleiras.

Podem-se fazer transições de materiais, mudar pendentes, mas as soleiras são “sagradas”, é como tocar no ombro de um desconhecido.

De ombro em ombro trocamos cotas, pavimentos, texturas, passeios, guias, contraguias, postes de iluminação, árvores. Não é que queiramos alterar a geografia mas “Metro oblige”.

Quando há dificuldades, fala-se à Transmetro, à Normetro que, por sua vez fala ao Metro, à Câmara, à Junta de Freguesia, aos Moradores e aos Comerciantes.

Depois de estar aprovado, “Bom para execução”, começam a surgir ruas que se cruzam e se dilatam fazendo largos, rotundas, praças, recantos que sobram, pracetas, largos com árvores, parques de estacionamento à ilharga e, porque não, “Boulevards” - Av. da República: Gaia / Matosinhos.

Sem ser esta a nossa vocação, o Metro constrói lugares, recantos, junta cidades, desenha Metrópoles - Gaia, Porto, Matosinhos, Maia, Trofa, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, e Gondomar vem a seguir.

As cidades não mudam por vontade própria ou por decretos políticos, mas pela emergência de sistemas necessários à sua sobrevivência e ao seu desenvolvimento.

Foi assim com os Romanos quando sobre dois atalhos que se cruzavam desenharam o Cardus e o Decomanus, e no centro ficou o Forum.

Foi assim na Idade Média, quando no Forum ficou a Praça da Catedral, construída com as pedras do templo demolido.

Foi assim no Barroco, com o desenho de eixos radiocêntricos, ligando essa Catedral (já cheia de talha dourada) às portas da Muralha.

Foi assim no Neo-Clássico em que as portas foram demolidas ou redesenhadas e os largos que recebiam as estradas passaram a ser praças, ladeadas por conventos.

Foi assim no Século XIX com o caminho-de-ferro, em que alguns conventos passaram a estações (S. Bento).

Foi assim no Século XX com o Metro Ligeiro de Superfície (Matosinhos/Trindade).

Será assim no Século XXI em que o Metro de Superfície, deverá estar integrado num sistema planeado para uma nova geografia (já chega de improvisos) que não se pode adiar.

“O país é pequeno e nós somos poucos...”*, mas penso que vamos conseguir.

* José Cardoso Pires

Eduardo Souto de Moura
Arquitecto